sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A casa da Vovó

CASA DE VÓ



Casa de Vó é o lugar mais doce do mundo!
É onde até o limão é doce, e qualquer doce fica muito mais doce.
Há sempre rocambole fofo, coberto de açúcar, em cima da geladeira.
E dentro? Nem se fala!...
Há sonhos de verdade, cobertos de canela.
Há biscoitos quentinhos acabados de sair.
Há suspiros dourados e beijinhos doces.
E a melhor, a mais limpinha, a mais gostosa cama do mundo.
Há esconderijos segredáveis e mapas de tesouro.
Há castelos, fadas, viagens espaciais, reis, princesas e super heróis.
Há risos, muitos risos de sobremesa nas mesas de domingo.
Na casa de Vó as coisas são da altura da gente e tudo está ao alcance das mãos.
Nada é cheio de não – me – toques.
Tudo é à prova de neto!
Até a guerra de travesseiros vem, mas significa paz e alegria.
Na casa da vovó dá vontade de correr e brincar o resto da vida sem parar nunca.
Pois trincos não tem, fechaduras também não.
Casa de Vó tem é muitos braços todos abertos a qualquer hora.
Pra casa de Vó nunca precisa avisar que vai, é só chegar.
Mesa de casa de Vó vive pronta!
Com toalha bem lavável, sem enfeites caros e novos; resistentes, isso sim.
E tudo funciona melhor na casa de Vó.
As paredes amortecem os tombos.
O chão é menos duro.
O fogão tem mais que seis bocas, todas acesas!
A mesa, como tem pernas…
As cadeiras, mas que dois braços aconchegando…
E Vó, sempre, é toda ouvidos.
Caderno de receita de Vó, então, é livro cobiçado, já esgotado.
Todos querem os segredos dos cozidos e dos assados, mas ninguém consegue jamais fazer um igual.
Porque o jeito de escrever, as páginas amarelas e as gotinhas de gordura não se fizeram em um dia.
Foram precisos muitos dias de festa e vontade de agradar.
Lamber os dedos pode, mas só na casa de Vó.
Raspas de panela tem sempre, e, o pior, tem fila também.
Se escuta sempre: “Eu pedi primeiro!”.
Quase toda Vó tem cadeira de balanço, um chinelo jeitoso, uma caixinha com bilhetes, lencinhos e papéis amarelados.
Gaveta de Vó, então, é uma festa!
De vez em quando toda Vó dá um suspiro bem fundo, porque tem coisas demais para se lembrar, sentindo saudades.
Há coisas que só o amor de Vó faz.
Machucados, por exemplo, são curados com dengo e muitos, muitos beijos.
Dinheiro de Vó rende…
Pensando bem é o único dinheiro que rende.
E costura que Vó faz, então?
Chega a vestir três gerações, até.
As histórias de Vó, as brincadeiras e as cantigas de ninar, só ela conhece, mais ninguém.
E o sono vem cheio de sonhos bons, quando a Vó está por perto.
Porque só cheirinho de Vó é já uma delícia!
O colo é tão gostoso e a pele tão macia que ficam na lembrança da gente pro resto da vida.
O assunto não tem fim na casa de Vó.
Ninguém perde o fio da meada, pois é tecido com muito interesse em escutar cada graça, cada novidade, cada descoberta.
Há tanto caso engraçado, e histórias p’ra se ouvir, que ver televisão é perder tempo…
O relógio é sempre adiantado para ninguém perder a hora.
Existe na casa de Vó a mágica do tempo, ele obedece, vai e volta, é só querer.
E a gente é o que quer ser.
Cresce, se quiser crescer.
A casa de Vó tem o maior espaço do mundo, mesmo que não tenha espaço nenhum.
Porque o espaço maior ficou inventado pela liberdade de rir, de correr e de gritar.
Espaço infinito que é do tamanho do coração que toda Vó tem.


Autoria - Guiomar Paiva Brandão, no livro “Casa de Vó”

Um comentário:

  1. Lindo esse texto!

    Senti uma saudade da minha vózinha lá em Minas1 aiaiai


    Realmente casa de vó é isso tudo mesmo!

    Bom feriadão pra vc!

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